A EMBARCAÇÃO QUE VIROU UM ARMAZÉM


As canoas, os vapores e regatões, eram e são até os dias atuais, verdadeiros armazéns flutuantes, levando os mais variados produtos para moradores ribeirinhos. As mercadorias chegavam pelos rios da região. A população do interior dependia desses pequenos comerciantes, que se abasteciam nos portos das cidades fluviais e faziam chegar às povoações remotas um pouco de tudo. Tecidos, bebidas, ferragens, cereais, paneiros (cestos) de farinha, quinino – remédio para tratar malária – são apenas alguns exemplos do que era vendido.
Em um vaivém diário nos rios, este tipo de comércio ganhava cada vez mais importância. Mas as trocas não eram registradas pelo fisco e as transações não obedeciam a qualquer tipo de regulamentação. Percebendo isso, e tendo a saída da crise econômica como prioridade máxima, o governo decidiu controlar as embarcações e seus tripulantes por meio da cobrança de impostos na década de 1840. Imediatamente, os pequenos vendedores que faziam o comércio de regatão foram afetados.
Eles eram os alvos principais das autoridades, que se empenharam em persegui-los. Afinal, além de fugir dos impostos, os regatões – como eram denominados os vendedores itinerantes – vendiam alimentos e manufaturas contrabandeados. Também acabavam contribuindo para o comércio clandestino como mediadores das trocas de produtos cultivados em pequenas roças ou coletados na floresta pelos agricultores. Isso acontecia porque, em certos lugares, esta troca sem fiscalização tornava-se uma “porta franca para o contrabando especialmente de noite, ocasião em que se desembarcam gêneros extraviados aos direitos com tanto escândalo”, como denunciava um coletor das rendas em um ofício de 1840. Os produtos eram escoados de forma clandestina pelos fundos das casas que beiravam os rios. A maioria das propriedades rurais localizava-se nas margens dos rios, por onde também transportavam a sua produção para o mercado situado na orla de Manaus. Porém, para evitar a fiscalização e o pagamento de impostos às coletorias, estes pequenos produtores ou comerciantes atracavam suas canoas em trapiches armados nos quintais das casas ribeirinhas próximas ao cais da cidade.







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