Sou Gisella Vieira Braga e antes de iniciar
peço que conheçam o nosso trabalho no Instagram
acesse pelo link abaixo
Ao escrever esse texto, desejei falar do homem negro, filho da negra livre, ex-escrava, que estudou para tornar-se militar, que sentia
falta de uma família, ao mesmo tempo que escondia a concubina e o
filho.
Desejei falar do ex-governador que teve seu rosto diversas vezes pintado com
tons mais claros, para que pudessem esconder a face negra, escrava e
explorada do Brasil de 1800.
Tudo
o que vocês vão ler aqui, eu li primeiro no livro Modernidade e
Negritude de Mario Ypiranga.
Contei
também com as pesquisas realizadas pelo senhor Francisco Gomes da
Silva, um escritor que também é apaixonado pela história do mulato.
MARIA
FLORINDA DA CONCEIÇÃO
Maria
Florinda da Conceição foi a genitora de Eduardo Ribeiro. Não era
amazonense, mas era brasileira nascida no Maranhão. Negra e
ex-escrava. Negra livre.
Teve
uma relação amorosa com um branco não identificado e dessa relação
nasceu Eduardo Gonçalves Ribeiro em 18 de setembro de 1862.
Maria
Florinda criou seu menino em um bairro chamado João Paulo na cidade
de São Luis.
A
casa que Eduardo Ribeiro cresceu ficava em uma rua chamada Cerâmica
e para ajudar no sustento da mãe, vendia peixe- frito para
sobreviver.
Foi
assim que dona Florinda conseguiu preparar o filho para vida,
incentivando-o a estudar e seguir a carreira militar. Eduardo
conseguiu sair de sua zona de (des)conforto.
Formou-se
no Liceu Maranhense em um curso secundário em 1881. Matriculou-se
com a ajuda de seu padrinho na escola militar do Rio de janeiro. Onde
estudou até 1886.
Saiu
graduado no posto de segundo tenente, seria locado no terceiro
batalhão da artilharia sediado em Manaus. Mas isso foi um fato que
se deu exclusivamente por medidas disciplinares. No entanto, os
documentos de época citados por Mario Ypiranga revelam que não foi
por motivos criminais ou que manchassem sua honra, mas talvez por
rebeldia contra o governo monárquico, uma vez que ele era
republicano ferrenho.
Subiu
na vida.
Tornou-se
engenheiro, professor, poeta e militar.
Era
notado por todos e seu carisma tão contagiante, lhe proporcionou
promover seu próprio jornal.
Todos
queriam ler o jornal dO Pensador.
Segundo
Francisco Gomes:
O
que se vê, é que, vez em quando, vão surgindo novas “revelações
da trajetória de Eduardo Ribeiro, desde a sua terra natal, quando,
ainda jovem e esperançoso, filiava-se ao positivismo e às crenças
anticlericais com as quais formou trincheira com outros amigos a
ponto de organizar, editar e promover um jornal a que deram o título
de “O Pensador”, contestando a conduta da igreja católica
apostólica romana e dos arraigados padres e cônegos da época,
vivendo um período de verdadeira guerra de palavras, artigos, altos
riscos, afrontas e desagravos.
Não
é difícil imaginar o massacre que sofreu como jovem,
afrodescendente, pobre, filho de negra livre, criado na periferia da
cidade, por liderar oposição ferrenha aos ofícios da igreja e a
seus seguidores quando a religião católica era a oficial do Império
e a senhora de tudo e de todos.
UMA
NOVA VIDA EM MANAUS
Chegou
a
Manaus como integrante da Instituição militar em 1887.
Em
1890 foi convidado, a participar da gestão estadual do então
primeiro governador republicano nomeado Augusto Ximeno de Villeroy
(1890-1890) que era um politico vinculado ao Comando Militar
Positivista.
No
mesmo ano Augusto Ximeno de Villeroy (1890-1890) foi indicado para
professor da Escola Superior de Guerra.
É
nesse momento histórico que a administração do Amazonas fica sob
os cuidados de Eduardo Gonçalves Ribeiro.
Exerceu
o cargo de governador de 2 novembro de 1890 a 5 de maio de 1891.
Eduardo
Gonçalves Ribeiro voltaria a ocupar o cargo no período de 27 de
fevereiro de 1892 a 23 de julho de 1896, desta feita, eleito pela
Assembleia Legislativa do Estado.
Sua
gestão é considerada uma das mais prósperas, sobretudo, no
tocante, às obras de infraestruturas realizadas em Manaus,
destacando-se:
-
Conclusão das obras do "Teatro Amazonas.
-Construção
do "Reservatório do Mocó.
-
Ponte "Benjamin Constant", Primeira e Segunda Pontes
"Romanas", Ponte "Dos Bilhares.
-Palácio
da Justiça.
-Implantação
do Sistema de Geração e Distribuição de Eletricidade e
implementação do Sistema de Bondes Elétricos.
Diversas
obras importantíssimas de urbanização também foram realizadas na
Capital do Amazonas, ensejando-lhe o título de "Paris dos
Trópicos".
Após
deixar o Governo do Estado em 1896 concorreu, sem sucesso, a uma vaga
no Senado Federal sendo eleito Deputado Estadual, pelo Partido
Republicano, conquistando a presidência da Assembleia Estadual,
mandato e função que exerceu até sua morte em 14 de outubro de
1900.
AS
DOENÇAS
No
primeiro trimestre de 1900, Eduardo Gonçalves Ribeiro apresentou
sérios problemas de saúde.
Viajou
para a Europa com destino a Itália onde após chegar voltou a passar
mal, sendo diagnosticado por um médico de uma cidade do interior
daquele país, com embolia cerebral.
Seu
estado de saúde inspirava cuidados e por recomendação médica,
retornou a Manaus em 5 de setembro de 1900.
A
partir dessa época seu estado de saúde se deteriorava a cada dia.
Sua
última aparição pública ocorreu no dia 30 de setembro de 1900 no
baile oferecido aos Congressistas, no Paço da Liberdade, pelo
Governador Silvério Nery.
Na
ocasião fora recebido no local na condição de Presidente da
Assembleia Legislativa Estadual. No dia 10 de outubro de 1900, dada a
gravidade do seu estado de saúde, não compareceu para presidir a
Convenção do Partido Republicano sendo substituído pelo Vice
Antonio Constantino Nery.
Mario
Ypiranga relata que os últimos dias de Eduardo foram infernais,
infelizes e humilhantes:
Não
escondemos que Eduardo Gonçalves Ribeiro foi um cidadão
politicamente infeliz após deixar o governo, abandonado por amigos e
detestado por inimigos. Preferia refugiar-se na mais humilhante das
posições, se é que já não estava desde muito nessa situação a
ponto de não poder conter-se. Sem família constituída, sua casa na
rua de José Clemente Pereira, devia ressentir-se com a falta de uma
esposa e de crianças, a mulher existia, concubina, com que teve um
filho, mas era obrigada a viver no anonimato. Os criados eram poucos
mas de confiança, ordenanças, bagageiros de batalhão de segurança,
ele próprio não devia sentir-se seguro naquele casarão.
Outro
relato marcante sobre a situação de Eduardo veio através de um
postal particular de Rocha dos Santos.
Nesse
postal o referido senhor foi visitar Eduardo Ribeiro em uma clínica
psiquiátrica na Itália e relata sobre os infortúnios mentais que
assolavam o então ex-governador.
A
MORTE
Os
relatos abaixo foram extraídos de um texto escrito pelo professor
Julio Benevides Ushoa, um
dia após o suicídio de Eduardo:
Manaus,
14 de outubro de 1900.
Residia
o imortal maranhense na antiga chácara pensador em companhia do dr.
Menelio Pinto, diretor da secretaria do congresso legislativo,
profundamente abalado de suas faculdades mentais, a época do
tristíssimo acontecimento que o vitimou, encontrava-se o doente
sobre rigorosa vigilância, meses antes estivera no Ceara e na Europa
a tratamento de saúde. Em Gênova uma junta médica formada pelos
professores Ludovici, Maragliano e Taburini, o examinara detidamente
concluindo que o seu restabelecimento se processaria pouco a pouco e
do velho mundo retornou enfermo, chegando a manaus em 5 de setembro
de 1900.
Permanência
junto ao pensador o dr Menelio Pinto, o alferes da Forca Pública
João Emídio Ferreira da Silva, o furriel Severino Augusto de Souza
e os praças da mesma corporação Manoel Laranjeiras, João
Evangelista e José Santos, Era um grupo bem numeroso de vigilantes,
capaz de velar pela segurança do doente e evitar qualquer desatino
que porventura ele cometesse num estado de insânia em que se
encontrava.
Passara
sábado para domingo agitadíssimo, pedindo isso e aquilo em grande
estado nervoso, pela madrugada de ontem o dr. Eduardo Ribeiro,
tirando as correntes da rede sacudia-as jogando umas nas outras,
tirada essas por um dos enfermeiros, ele pediu um pouco de leite…
enquanto seu guarda saia do quarto para pedir o líquido, o grande
homem só, isolado por minutos, pôs
termo a sua utilíssima existência, momentos depois quando dr.
Emidio Pinto entrou nos aposentos, o pensador estava morto,
suicidara-se
no seu próprio quarto de dormir, uma sala junto a varanda, com
janelas para o quintal e pátio,
tinha laçado
no pescoço uma corda de mosqueteiro, uma corda de cor verde, que
pendia do armador. Eduardo Ribeiro jazia com a cabeça para o lado
direito, sentado do soalho, a cabeça e o tronco apoiados na parede,
as pernas estendidas ao comprimento, os
pés ligeiramente cruzados e vestia um camisão de linho branco e
meias pretas com listras brancas.
Dona
Florinda foi chamada a Manaus
por telégrafo urgente, chegando
encontrou seu filho morto. Quando era questionada sobre a morte do
filho, respondia ser por doenças causadas por excessivo consumo de
carne de porco. Mesmo sabendo que muitas controvérsias existiam
naquele momento, a
família
de Eduardo Gonçalves Ribeiro nunca se manifestou publicamente a
respeito dessas controvérsias, restando apenas
rumores
orais.
Mas
o pior estava por vir. O inventário de Eduardo Ribeiro
foi amplamente adulterado. Dona Florinda denunciou o sumiço de um
piano, reclamou as elevadas dívidas que do nada apareceram, viu os
bens moveis de seu filho sendo surrupiados e ela sozinha ali, sem ter
muito o que fazer.
O
filho não
reconhecido
de Eduardo Gonçalves Ribeiro
em nenhum momento
foi citado no inventário,
nem a mulher amante, ninguém mais
foi citado além da
fragilizada mãe.
Assim
termina a história do mulato.
Eu
não consigo mais escrever sobre tudo o que li os últimos dias,
Vou
deixar postadas no blog todas as fotos que coletei e desejar que um
dia a justiça nos revele a verdade.
Salve
o pensador Eduardo Gonçalves Ribeiro.
1862 - 1900
LOCAL ONDE VIVEU SEUS ÚLTIMOS DIAS
Obrigada pela pesquisa. Nossa história precisa ser relembrada e apurado os fatos.
ResponderExcluirMuito importante saber um pouco da história de pessoas que realmente contrbuirão com o desenvolvimento do nosso Amazonas. É uma pena não existir mas governantes, como os que existiram no passado. Obrigada Gisella por buscar e compartilhar conosco histórias como essa.
ResponderExcluirObrigada pelo seu lindo trabalho de resgate da historia da nossa Manaus tão importante para nós filhos dessa terra
ResponderExcluirGisella....Parabéns por sua bela narrativa..Amo nossa história, me enche de curiosidade e alegria conhecer mais sobre "nosso povo". Rodrigo Gusttavo
ResponderExcluirToda vez que vejo a foto da casa onde Eduardo Ribeiro morreu, acho que é o castelinho da rua São Luís no Adrianópolis.
ResponderExcluirQue estória estranha. Esse suicídio e o sumiço de bens, não sei nao.. . Parece o caso PC farias. Parabéns pelo blog. Demonstra como somos ignorantes quanto à História do nosso Estado. Tantos nomes de ruas que nao sabemos o que fizeram em vida . Descobri muita coisa com suas postagens. Um abraço
ResponderExcluirÓtima história, ótimo trabalho, amo essas histórias sobre manaus e principalmente do Eduardo Ribeiro, um relato triste, porém muito interessante
ResponderExcluirE não esquecer que a chácara mencionada, é onde é o hospital psiquiátrico.
ResponderExcluirAmo história, ainda mais quando se trata de Manaus
ResponderExcluirÉ preciso apurar os fatos históricos com exatidão e para isso é preciso que haja mais pesquisas sobre esses fatos. A história é uma ciência social e conformidade com a realidade histórica da época.
ResponderExcluirDÉBORO MELO
Qual a conclusão dessa história de Eduardo Ribeiro???Gostaria de saber
ResponderExcluirNão sabia da história de Eduardo Ribeiro, muito importante saber desses homens que fizeram tan por Manaus
ResponderExcluirEu gostei demais de saber dessa história, será se o hospital Eduardo Ribeiro refere-se a ele?
ResponderExcluirSim... Trata-se da chácara citada.
ExcluirEra a casa dele.
Como é satisfatório ler um pouco mais sobre nossa história. Parabéns, Gisella! 👏🏻👏🏻
ResponderExcluirBelíssimo trabalho
ResponderExcluirEssa penúltima foto seria hoje a UBS Dr. José Rayol dos Santos que fica na Av. Constantino Nery, mesmo terreno da chácara onde residia e morreu o então Governador. Conheço demais esse lugar e já sabia da história, na época era zona rural de Manaus. Obrigada Gisella! Continue contendo essas histórias maravilhosas! Acompanho diariamente suas publicações no Instagram pra matar a saudade da minha terra e do meu povo!
ResponderExcluirQue bom ter pessoas que tem conhecimento e querem dividir com outras . Amei a história, e fiquei mais curiosa em saber de outras lindas histórias que Manaus esconde.Parabens!
ResponderExcluirOBRIGADO GISELLA, NÃO CONHECIA A HISTÓRIA DE EDUARDO RIBEIRO, VC FEZ UM ÓTIMO TRABALHO.
ResponderExcluir"...a lembrança faz a saudade existêncial da história nos fatos,provocando o imaginário do cenário do passado visto hoje nas obras deixadas como testemunhas dos fatos. Os legados..." Clécio de Assis.
ResponderExcluirParabéns. Bravo!
Que história triste, ele não merecia todo esse sofrimento, imagino o tanto que ele deve ter sofrido
ResponderExcluirCerta vez em uma corrida de táxi, uma professora e histiadora discorreu sobre vários fatos de Manaus e discorreu sobre a família Nery como um bando de corruptos e até que o pensador foi assassinado. E também outras pelolad
ResponderExcluirOutras pérolas de pessoas famosas de Manaus, pena que aquela corrida foi rápido, se demorasse um pouco mais certamente outros fatos revela-se-iam
ResponderExcluirO maior gestor publico que tivemos. Sou imensamente grato as obras e os projetos que o pensador executou na capital do estado. Seu nome jamais cairá no esquecimento.
ResponderExcluirObrigada Gisella pelo belo trabalho de pesquisa e por compartilhar nossa história.
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